segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Let it snow

Let it snow

O frio finalmente começou a dar frutos e no dia 6 de janeiro acordei com a praça da Jefferson completamente coberta de neve. O único senão é o facto de a neve, por ser mais leve que a chuva, quando estamos a andar, passa por baixo do capuz e vem direta a cara e olhos, pelo que sempre que é aborrecido ter que andar com os olhos semicerrados.






O trabalho começa

Com o fim das festas, finalmente o lab (e a residência) deixou de parecer um deserto. Isso significa também que o meu trabalho começa. Mas não é assim tão fácil. Ainda falta tratar de metade das burocracias que falei anteriormente. E entre ID, reunião com o serviço de Saúde Ambiental e animal training ainda demoro uns dias a poder começar a trabalhar.
Tenho como mentor um chinês muito prestável, e com imensa paciência (go figure). É daqueles que mostra uma vez como se faz e depois põe-te com as mãos na massa.


O ambiente é bastante bom no laboratório. Todos os colegas são muito prestáveis e procuram ativamente saber como te estás a safar. E isto tudo começa com o chefe, Angelo Lepore, que está sempre bem disposto. O auge foi num belo dia em que trouxe a filha ainda bebé e a mulher para o trabalho. Era ouvi-lo, pelos corredores  com a bebé ao colo a falar "bebé-ês" e a cantar coisas como "Elliana is going to the confocal room" com a melodia de conhecidas canções infantis. Além disso todos tivemos direito a cupcakes caseiros! Sooo american..
   



Italian Market

A fruta nos supermercados é caríssima. Além de muita ser vendida à unidade (com uma simples maçã a custar cerca de $0,69). No entanto parece ter sido toda escolhida a dedo, e aposto de que deve haver um empregado cujo trabalho é apenas e só polir a fruta.
Para quem não se interessa tanto pela aparência, mas sim pelo valor a pagar há o Italian Market. Trata-se de um mercado de rua na 9th Street onde historicamente emigrantes italianos vendiam fruta e legumes, mas que atualmente é constituída por mexicanos, aparentemente. Apesar disso, ainda há muitas lojas, talhos etc, que mantém o seu nome italiano.
Eu e o Tiago Mota decidimos dar lá um salto e não ficamos desapontados. A fruta não tem tão bom aspeto, mas encontram-se pechinchas como: 1 caixa com 11 mangas a $1, 3 alfaces $1,  2kg de rúcula $4, 3 caixas de mirtilos a $1, 1 caixa de morangos a $1,50. É certo que tem que se escolher bem e ter cuidado com os podres lá para o meio. Mas por este preço, bem que não me importo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

1 week later

It's always cold in Philadelphia

Viver nas residências da Jefferson tem os seus prós e contras. Se por um lado estou mesmo no centro do campus e tenho um quarto com as mínimas condições de vida, por outro custa balúrdios e não tem casa de banho. Estou no 1º piso da Martin Hall (que corresponde ao rés do chão em Portugal), que neste momento está praticamente vazia. Sou vizinho de pelo menos 3 asiáticas e um árabe que viram a cara no corredor, por isso é como se não estivessem também. Em contraste, a Diana apanhou-me uma vez a sair para ir lanchar e esteve a contar-me a vida toda. Isto durante 1h30, sem exageros. Quando saí fui diretamente jantar. Parece que a interpretei mal no primeiro dia, porque é muito prestável e aparentemente eu sou "very easy to talk to" e "a very good listener" (não é difícil quando ela conversa praticamente sozinha). Chamem-me má pessoa, mas agora tento sempre evitá-la, porque senão não consigo sair daqui.


Vista da janela do meu quarto para o centro do campus da Jefferson


Cadeira anti-quedas (apaguei um cagaço quando me sentei pela primeira vez)
  



 Fica também este time lapse do nascer do sol para verem como ando a acordar cedo.


Quando consigo efetivamente sair de casa, deparo-me com um frio a que não estou habituado. Apesar de bastante bem encasacado, o frio ultrapassa a roupa e entranha-se, principalmente nas pernas, fico com rubor facial que nem um pai natal com uns copitos de eggnog a mais, e deixo de sentir as orelhas. Literalmente. Mas vale a pena enfrentar o frio por Philadelphia. É uma cidade tipicamente americana. Segundo já me foi explicado, é uma cidade de bairros onde quarteirões de pequenas casas de tijolo dão mais para baixo lugar a arranha-céus e grandes lojas como a "Macy's" ou a "Century 21" (não é a imobiliária!). Mas vou deixar a cidade para posts futuros. Para já deixo só estas fotos como teaser.

Árvore de Natal do "Macy's"
O meu local de trabalho nos próximos tempos

Respondendo à pergunta mais que mais me fazem as minhas avós: Sim, tenho-me alimentado bem (como se eu não tivesse reservas de sobra). Philly tem milhares de restaurantes e bem mais baratos que os que encontrei em Nova Iorque. E descobri uma ferramenta que tem feito maravilhas - Eat 24. Através desta aplicação posso encomendar refeições a vários restaurantes, sem ter que pagar nada além da comida e do imposto! Isto porque em vez de escolher a opção "delivery", escolho sempre "pick up" e assim evito pagar a tip. Apesar de tudo isto é controverso e há extensos artigos onde a temática é debatida aqui e aqui. Assim, tenho experimentado de tudo: chinês, japonês, chinês, italiano (não é piza), chinês. Resumindo, muito chinês porque é mesmo barato e ainda vem com fortune cookie, que não é lá muito "accurate" (vejam a foto).

Porque a melhor maneira de cuidar da família é emigrar...


New Year's Eve

Pensamento do mês de janeiro no desk planner da Jefferson
Decidi cancelar a visita a Times Square, para poupar fundos. Assim, passei o dia a passear por Philly, e às 18h dirigi-me a Penn's Landing, para ver o fogo de artíficio antecipado (para as criancinhas, digo eu), que foi lançado do Rio Delaware. Foram 10min gélidos, seguidos de outros gélidos 20min de regresso a casa, sem contar com os 20 min de ida que também o foram. Por esta razão, quando eram 0h (5h em Portugal) onde estava eu? No quentinho. Assim, pude no dia seguinte passear mais um pouco e aperceber-me que, em contraste com o que se passa em Portugal, no dia 1 a cidade continua a viva, com quase todas as lojas e restaurantes abertos (à exceção de bancos e assim).


Burocracias, burocracias, burocracias

Os americanos adooooram burocracias. Senão vejamos: É preciso seguro de saúde com características específicas desde um mínimo de deductible, que segundo percebi é o máximo que pagamos quando vamos ao médico, a um mínimo para repatriamento do corpo (bater na madeira); para começar a trabalhar é necessário ter o ID da Jefferson e para ter o ID da Jefferson é preciso ter uma entrevista com uma senhora dos "Environmental Health Services", depois levar o meu comprovativo de imunizações (mais um teste de IGRA) aos "Health Services" e depois ir à "Bookstore com todos o papel assinado por ambos os serviços, pagar $15 e finalmente (vamos ver) ter o cartão para poder pedir o acesso aos computadores e o email institucional.

No lab, é preciso ter uma chave que dá acesso a um corredor que tem uma porta fechada com um código que é individual, que dá para outra porta com outra chave. Além das cancelas da entrada que só abrem com o ID.

Para concluir, e após muita prospeção de mercado abri uma conta no TD Bank. A prospeção de mercado impõe-se uma vez que aqui tudo no banco se paga. Desde taxa para usar os ATM de outros bancos, a uma comissão de manutenção MENSAL, que pode ser evitada em certos casos (daí a prospeção bancária) como haver sempre um montanto mínimo na conta, a um depósito mínimo todos os meses. Curiosamente, para abrir a conta não foi preciso nenhum documento além do passaporte e deram-me logo o cartão e 3 cheques. E ainda não fui a nenhum serviço do estado!

Resumindo, nem todas estas picuinhices me tratam do jet lag, que ainda hoje acordei às 5h50 da manhã.

E já passou uma semana...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Com a casa "às costas" por NY e Philly

Welcome to Newark International Airport

Após uns dias de difícil expectativa relativamente a greves e afins, finalmente voei para os EUA.
Acontece que eu não era a única celebridade televisiva a bordo. Mesmo à minha frente está nem mais nem menos que Cristina Ferreira - guru da televisão portuguesa e possuidora de uma voz por vezes tão aguda que apenas é audível pela população canina, apesar da altura. Vem então um assistente de bordo apresentar as mais sinceras desculpas por não haver lugares disponíveis para ela e para o filho na classe executiva. Pergunto-me então se seria oferta, cortesia da companhia aérea, ou se terá sido pedido de upgrade da apresentadora. Enfim.

A "Border Patrol" no aeroporto estava uma vez mais com filas intermináveis de turistas entusiasmados para responder às indiscretas perguntas dos oficiais de fronteira, rodeados de informações como "if you notice any suspicious activities, please contact an officer", sinais de proibido tirar fotos, falar ao telemóvel (só falta ser proibido respirar), e cartazes da Port Authority - "We are the face of our nation". Mesmo tendo saído do voo a correr para chegar rapidamente à fila estou mais de 45 minutos à espera.
Apanho então o comboio para Penn Station (em vez de 2h de transfer de autocarro ou outro meio rodoviário, demoro 30min).


O que fazer em NYC com duas malas enormes, depois de 8h de vôo?

Saio da estação e vejo logo os milhares de reclamos luminosos da 7ª avenida junto ao Madison Square Garden. Decido então que empurrar os meus 2 malões por 10 quarteirões é o mal menos quando comparado com descer as escadas para o metro, passar as cancelas, esperar naquele calor insuportável pelas carruagens e subir escadas novamente. Agora, convenhamos que sexta feira ao início da noite (17h30) na autodenominada "fashion avenue" também não é pêra doce ter que serpentear pelo labirinto de pessoas que andam para cima e para baixo.

De qualquer forma chego ao Port Authority Bus Terminal esbaforido, mas inteiro. Imprimo o bilhete e tenho 2h30 até ao meu autocarro (vejam na foto o quão natalício está). O que fazer? Quase não há bancos. Os passageiros à espera de embarcar espalham-se pelo terminal encostados às paredes ou sentados no chão. Elementos da polícia de Nova Iorque e do exército americano (totalmente equipados) andam para cá e para lá em conversa, enquanto observam os transeuntes. Sou várias vezes abordado por pedintes e por uma senhora negra (com sotaque e tudo) que me pede o telemóvel para ligar ao namorado uma vez que o dela ficou sem bateria. 


O Natalício (e desfocado) Port Authority Bus Terminal em NYC


Cansado, farto de ser abordado e cheio de fome, pego novamente nos meus pesados companheiros de viagem e dirijo-me à "Five Guys - burguers and fries" da 42nd Street que, para não variar, está cheia. Após pagar os exorbitantes $12 (com moedas, o que eles supostamente detestam) por um hamburguer e uma bebida (cherry coke - refill) e sem fries, regresso ao terminal, sento-me em cima de uma das malas e devoro em poucos minutos o manjar (dos deuses?).


Five guys "regular" cup


Sou novamente abordado ("I'm $30 short of a Grey Hound ticket") antes de descer para a porta de embarque. Entro então para o autocarro, que está pelo menos com 30º de temperatura, a senhora motorista faz os anúncios de início de viagem "Welcome... please use headphones and keep your voice low..." e despeço-me da curta visita a NY.


Philadelphia!

O caminho para Philly é quase todo feito por autoestrada que é delimitada por portagens com direito à via verde americana - o EZPass. No entanto, mesmo à chegada passamos por algumas zonas de subúrbios com direito a casas pré fabricadas idênticas que se multiplicam por estradas largas calcorreadas por carros cujo tamanho mais pequeno parece ser o jipe. Como se não bastasse todo este pituresco quadro, heis que sou então transportado para um qualquer filme de Natal de sábado à tarde da SIC. Sim, são mesmo as casas overdecorated com milhões de luzes de natal, qual espetáculo de pirilampos estacionários e milhares de figurinhas no jardim. E não estou a hiperbolizar.

Chego finalmente a Philadelphia. Uma vez que são apenas 4 quarteirões, e bem mais pequenos que os de Nova Iorque, decido enfrentar o frio da noite e, uma vez mais, puxar os 2 malões pelas ruas.

Encontro facilmente a Martin Hall onde vou ficar no próximo mês e sou calorosamente recebido pela Diane - a funcionária de meia idade que veste por cima da sua roupa uma t-shirt da Jefferson. E este calorosamente refere-se ao "calor americano" em que os "Welcome!" e "How are you tonight?" num tom de voz bastante efusivo não são acompanhados pelo mesmo no olhar, que se mantém inerte. Sou então informado bastante exaustivamente de regras e "living tips", que confesso não ter assimilado devido ao avançado da hora e dos quilómetros percorridos.
Quando entro no quarto caio à cama e deixo-me dormir quase instantaneamente. 
Até amanhã, Philly.

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Espero continuar esta crónica da vida aqui pelos "States" nos próximos tempos, e com posts mais visuais. Vou tentar manter as coisas interessantes e fazer updates regulares (se correr tão bem como o meu blog do Japão não vai haver muito mais para ler). Boa noite/bom dia!